A Química Farmacêutica e Medicinal (QF&QMed) é uma ciência multi, inter e transdiciplinar (Figura 1).
Multidisciplinar porque envolve mais de uma área do conhecimento que, aparentemente, não tem relação uma com a outra, mas existe ao menos uma temática em comum entre elas. Por exemplo: Química, Farmacologia e Medicina, onde a temática em comum seria o Fármaco.
Interdisciplinar porque existe o intercâmbio mútuo e interação de diversos conhecimentos de forma recíproca e coordenada. Então, a farmacologia e a Química interagem com conceitos e subáreas da Biologia, como bioquímica e microbiologia, por exemplo. A Farmacologia e a Medicina interagem por Meio da farmacologia clínica, por exemplo. A Química e a Medicina interagem no contexto do desenvolvimento de fármacos.
Transdisciplinar, que é um nível ainda superior aos anteriores, porque não existem apenas interações ou reciprocidades, mas situa essas relações num contexto global, onde não é possível separar as interfaces.
Então, a Química Farmacêutica e Medicinal está no centro desse diagrama, interagindo de modo recíproco e integrado em todas essas áreas do conhecimento, mas ao mesmo tempo se expande e engloba as demais áreas. Por isso, é uma ciência tão linda, apaixonante e complexa!
Mas, afinal o que estudamos na QF&QMed?
De um modo bem geral e simplificado, existem 3 grandes interesses ou objetivos na QF&QMed (Figura 2).
O primeiro deles é conhecer como um fármaco atua em nível molecular, ou seja, compreender de que forma a molécula do fármaco gera uma resposta no organismo, exercendo seu efeito.
O segundo seria voltado para a compreensão de como ligeiras alterações na estrutura molecular influenciam na atividade biológica pretendida, o que é chamado de estudo de relação estrutura-atividade (REA). Nesse estudo, a atividade biológica de uma série congênere, ou seja, que pertence a mesma classe química, é avaliada, normalmente em ensaios in vitro. Apesar de pertencerem a mesma classe, as moléculas que compõem a série diferem entre si por pequenas alterações estruturais. Assim, é possível identificar quais modificações contribuíram ou não para o aprimoramento da atividade desejada. Em sua grande maioria, essas modificações estruturais são feitas por meio da síntese orgânica.
Por último, temos o objetivo mais aplicado da QF&QMed, que é a descoberta de novos fármacos, o que pode ser feito por meio de diferentes abordagens e estratégias, as quais serão abordadas em maiores detalhes posteriormente.
Nos próximos posts, vamos tratar de algumas definições e terminologias básicas no contexto da Química Farmacêutica e Medicinal. Fique ligado e até mais!
Se gostou desse conteúdo, compartilhe!
Links e referências:
1 – PDB ID: 3EKV – https://www.rcsb.org/structure/3ekv
2- King NM, Prabu-Jeyabalan M, Bandaranayake RM, et al. Extreme entropy-enthalpy compensation in a drug-resistant variant of HIV-1 protease. ACS Chem Biol. 2012;7(9):1536-1546. doi:10.1021/cb300191k
3 – Para busca no PDBSum: http://www.ebi.ac.uk/thornton-srv/databases/cgi-bin/pdbsum/GetPage.pl?pdbcode=index.html
4 – Tavares, M.T. et al. INTERAÇÕES FÁRMACO-RECEPTOR: APLICAÇÕES DE TÉCNICAS COMPUTACIONAIS EM AULA PRÁTICA SOBRE A EVOLUÇÃO DOS INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINAQuim. Nova, Vol. 38, No. 8, 1117-1124, 2015. http://dx.doi.org/10.21577/0100-4042.20170513
Profa. Dra. Marcelle de Lima Ferreira Bispo
Professora Adjunta do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Possui experiência na área de Química Medicinal, com ênfase em planejamento, síntese, modelagem molecular e avaliação biológica de novas substâncias com potenciais atividades antibacteriana, antimicobacteriana, antifúngica, antichagásica, antileishmania, antimalárica e antitumoral.
Fantástico! Uma área cheia de conhecimentos e possibilidades.